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Conto - Nostalgia

  • Camilla Bastos
  • 4 de set. de 2014
  • 2 min de leitura

O copo estava em cima da mesa. Seu vidro transparente refletia o sol que entrava pela janela. Ele estava cheio até a metade e parecia estar lá desde sempre. Uma fina camada de poeira cobria a mesa rústica. As cadeiras estavam cobertas por um lençol branco, juntamente com os demais móveis da casa.


O piano da sala, porém, estava aberto. Suas teclas empoeiradas até a metade davam a impressão de que alguém limpara ao tocar uma melodia melancólica.


Ao me aproximar, tropecei em uma caixa próxima à poltrona também coberta por lençol. Ajoelhei-me junto a caixa e uma curiosidade de saber o que tinha dentro tomou conta de mim. Espalhei a poeira com um leve sopro e abri a caixa, revelando uma pequena caixa de música. Embaixo, havia um porta-retrato que cabia perfeitamente dentro da caixa.


Com cuidado, tirei o porta-retrato e virei para ver a figura gravada em sua superfície. Levantei-me para apreciar a bela imagem à luz da claridade que entrava pelas frestas da pesada cortina de camurça.


A moça da antiga fotografia sorria. Seus cachos caiam levemente sobre seus ombros enquanto seus olhos escuros alegravam-se ao receber um buquê de flores do campo. As mãos que ofereciam as flores pertencia a um rapaz de aparência nobre. Ele sorria igualmente, seus olhos, porém, fixavam-se nos olhos da moça.


Segurei o quadro em minhas mãos enquanto meus olhos vagavam pela sala há muito tempo desabitada. Fixei o olhar sobre a lareira e notei um espaço marcado sobre ela. Notei que, talvez, era lá que um dia fora pendido o quadro em minhas mãos.


Em poucos passos, alcancei a lareira e encaixei o quadro onde um dia ele pertencera. Vi um envelope aberto sobre a madeira rústica da lareira. Seu selo rosa, envelhecido com o tempo, permitia que a carta de lá de dentro fosse retirada. Novamente, a curiosidade tomou conta de mim e me vi abrindo a delicada carta.


Dei três passos para trás e acionei a bela vitrola do canto da sala. Uma melodia desconhecida por mim soou pelo auto falante da vitrola. Comecei a ler a carta.


Sua datação era de uma época antiga. As mãos que a escrevera desenhara em uma bela caligrafia uma linda canção de amor. Suspirei levemente e elevei meus olhos ao quadro que acabara de pender na parede.


Olhei à minha volta novamente e notei mais uma vez a grande poltrona coberta pelo lençol. Ao seu lado, havia outra poltrona, agora menor e com formas delicadas. Sorri levemente, sentindo a ternura que pairava sobre ar. Uma memória impregnada no local pelo jovem casal que uma vez habitou essa pequena casa e que envelheceram juntos.


Lembrei-me então do que uma vez ouvi sobre o casal. Que sou privilegiada por ser fruto de tão belo de amor. Olhei novamente para o retrato da lareira e reconheci ali os traços familiares. E então acreditei que não houve amor tão belo quanto o amor compartilhado entre meus avós.


 
 
 

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