Conto - Escape
- Camilla Bastos
- 26 de set. de 2014
- 2 min de leitura
O homem de capuz preto me arrastou pelo portão escuro em direção ao corredor que cheirava a mofo. Ele não hesitava em nenhum momento enquanto contornava o labirinto de corredores do porão do castelo. Eu tremia de frio e cambaleava para conseguir alcançar o ritmo do homem.
– Ande rápido, moleque – ele sibilou. – Lorde Ruccon não gosta de atrasos.
Eu tentava, inutilmente, me livrar da mão pesada do homem me segurando. Mas ele apertava meu pulso cada vez com mais força. Eu precisava fazer alguma coisa. Não poderia deixar Shatsi, minha companheira de viagem e melhor amiga, sozinha. Eu não poderia tê-la deixado sozinha. Se Lorde Ruccon lesse minha mente, ele descobriria que havíamos o espionado por dias. E pior, saberia de Magyor estava pronto para reivindicar o trono, que era seu por direito. Esse seria o nosso fim.
Paramos de encontro a um muro. O ambiente iluminado por apenas uma vela no canto da parede, quase se esgotando. O homem de capuz murmurou algumas palavras inaudíveis movendo sua vara em um movimento circular na parede. Uma fenda se abriu e fui arrastado para dentro. Uma gosta de água caiu em meu pescoço, descendo gelada pela minha coluna. Senti meu outro pulso ser agarrado pelas mãos do homem encapuzado, me deixando mais imobilizado do que antes.
Depois de passarmos por duas câmaras, adentramos a uma terceira, com as paredes escuras cobertas de musgo. A única iluminação vinha de apenas um ponto central. Um calafrio percorreu meu corpo quando notei que estava diante da Cadeira De Fogo de Lorde Ruccon.
Com um movimento simples de mão, ele apontou para mim, e eu senti meu corpo inteiro gelar. O ar saia completamente de meus pulmões. Minha mente ficou vazia. Eu não lembrava quem eu era: Jahal, o mensageiro de Suriee, enviado para espionar a terra de Lorde Ruccon, Fargheen. Naquele momento, tudo ao meu redor ficou em branco. Apenas uma coisa ocupava minha visão: O olhar vazio de Lodre Ruccon. Eu tinha certeza de que aquele era meu fim.
Um grito cortante derreteu o gelo que me envolvia. O ar começou a entrar em meus pulmões com menos dificuldade e a sensibilidade voltou à minha pele. Eu conseguia finalmente tomar conta do que estava acontecendo. Percebi como era incapaz de fazer qualquer coisa. Eu estava exposto ao maior perigo da era. Eu sabia o que ele era capaz de fazer.
Meus olhos captaram os movimentos rápidos que interceptavam ambos Lorde Ruccon e o homem do capuz. Encontrando uma brecha, consegui cambalear para longe, em direção à saída. Sei que estava sendo covarde, fraco, mas sair vivo era o plano principal. Eu não tinha tempo para pensar em atos de heroísmo. Aquela característica pertencia a outra pessoa, não a mim. Eu era apenas um garoto. Fraco. Inútil. Naquele momento, eu preferi ser um covarde vivo do que um herói morto.
Uma luz branca brilhou logo atrás de mim, seguido por um grito agudo que rasgou as paredes dos meus ouvidos. Saí de lá com o amargor do arrependimento. Mas antes de atravessar a fenda, voltei o rosto para trás logo a tempo de ver algo sendo jogado contra a parede, já sem vida.
Shatsi.

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